Serpentes

As serpentes

As serpentes se destacam entre os Squamata (lagartos, serpentes e anfisbenas) por uma combinação única de características morfológicas: corpo extremamente alongado, ausência de ouvido externo, grande mobilidade dos ossos do crânio, ausência completa de cintura escapular, órgãos internos alongados, ausência da sínfise mandibular, língua bífida e a ausência completa de pálpebras móveis. Contudo, a característica que mais se sobressai é a forma quase exclusiva que algumas espécies apresentam para subjugar suas presas. Estes animais utilizam-se da constrição ou de um sofisticado mecanismo bucal que injeta poderosos compostos tóxicos, os venenos.

No mundo, existem mais de 3,5 mil espécies de serpentes, divididas em aproximadamente 36 famílias. No Brasil, distribuem-se em seus diversos biomas, cerca de 440 espécies de serpentes, pertencentes as seguintes 10 famílias: Viperidae (cascavéis e jararacas, por exemplo), Elapidae (cobras-coral-verdadeira), Dipsadidae (cobras-espada e boipevas, por exemplo), Colubridae (caninanas e jararacas-do-banhado, por exemplo), Boidae (jiboias e salamantas, por exemplo), Aniliidae (falsas corais da Amazônia), Tropidophiidae (jararaquinhas), Leptotyphlopidae, Typhlopidae e Anomalepididae (cobras-cegas). Destas, apenas representantes das quatro primeiras famílias (Viperidae, Elapidae, Dipsadidae e Colubridae) apresentam evidências de produção de toxinas em glândulas especializadas, associadas a um mecanismo de inoculação de veneno. Estes animais podem ser bastante generalistas ou especialistas em suas dietas, e predam os mais diversos tipos de presas, de invertebrados a mamíferos de pequeno porte. 

Não se conhece ainda o grau de correlação entre a especialização da dieta e a especialização tanto do veneno quanto do aparato de inoculação associado (glândulas, dentes e músculos). O projeto, além de responder perguntas centrais sobre a diversificação de toxinas e taxas de especiação, busca descrever e compreender esse fascinante processo evolutivo de adaptação e especialização morfo-funcional entre as serpentes e suas presas.

COLUBRIDAE

Chironius exoletus

Colubridae

Chironius exoletus (Linnaeus, 1758) - cobra-cipó / vine snakes

Muitas espécies são conhecidas popularmente pelo nome de "cobra-cipó", como a Chironius exoletus. Recebem este nome porque vivem em copas de árvores e seu corpo fino e alongado faz com que se confundam em meio às folhas e galhos, e frequentemente são de coloração verde ou cinza, o que contribui para a sua camuflagem. Essa simpática cobra-cipó não é perigosa para os seres-humanos pois é áglifa, ou seja, não possui dentição capaz de inocular toxinas. Quando se sente ameaçadas pode inflar a região do pescoço, parecendo maior e ameaçadora. Essa estratégia funciona bem com seus predadores naturais, como alguns mamíferos e aves de rapina. Alimentam-se principalmente de sapos, rãs ou pererecas, e colocam ovos.

 

 

 Dipsadidae

Leptodeira annulata

→ Dipsadidae → Dipsadinae → Imantodini

Leptodeira annulata annulata (Linnaeus, 1758) - serpente-olho-de-gato / banded cat-eyed snake

A serpente-olho-de-gato, como já diz seu nome popular, pode ser reconhecida pela semelhança de seus olhos com os de felinos, que também têm a pupila vertical. Tem uma grande distribuição, que vai dos Estados Unidos à Argentina. É semi-arborícola e noturna, e ocorre em todos os domínios e biomas brasileiros, tanto em áreas de mata quanto modificadas. Sua dentição é opistóglifa, e não apresenta risco aos seres humanos, mas injeta toxinas em suas presas, que são em sua maioria anfíbios ou pequenos répteis. Uma curiosidade: as serpentes-olho-de-gato se agrupam durante a reprodução, formando verdadeiras “bolas de acasalamento”.

Philodryas laticeps

Dipsadidae → Xenodontinae → Philodryadini

Philodryas laticeps Werner, 1900 – cobra-verde / green snake

Uma rara serpente da América do Sul. Até 2008 era conhecida apenas pelo holótipo, supostamente perdido nas Guerras Mundiais. Primeiro registro de um espécime vivo.

Mussurana bicolor

Dipsadidae → Xenodontinae → Pseudoboini

Mussurana bicolor (Peracca, 1904) – muçurana / two-colored mussurana

A muçurana é conhecida pelo padrão de cores ao longo de seu corpo, que vai se modificando à medida em que o animal cresce. Essa serpente de hábitos noturnos e terrestres pode se alimentar de sapos e pererecas, lagartos, pequenos ratinhos e marsupiais e até mesmo de outras serpentes. Machos e fêmeas são muito parecidos, e ainda que produzam veneno, são opistóglifas e não causam acidentes. As fêmeas colocam entre 7 a 15 ovos. A espécie tem distribuição associada ao Chaco, sendo relativamente comum, no Brasil, no Pantanal. Apesar de não ser considerada uma espécie ameaçada, a poluição, o desmatamento e os incêndios podem ser uma ameaça à conservação desta espécie

Oxyrhopus melanogenys

Dipsadidae → Xenodontinae → Pseudoboini

Oxyrhopus melanogenys (Tschudi, 1845) – falsa-coral-de-Tschudi / Tschudi’s false coral snake

Esta serpente amazônica é um colubrídeo de tamanho médio e hábitos terrestres, que habita florestas e é ativa durante a noite. Se alimenta principalmente de pequenos mamíferos e lagartos, e as fêmeas põem entre 7 a 13 ovos. Com uma grande variação de cor, esta serpente pode ter duas, três ou várias tríades (anéis coloridos) ou apenas uma díade, como na imagem. É algumas vezes confundida com a falsa coral Oxyrhopus trigeminus, mas a largura das bandas pretas e brancas serve para diferenciá-las.

Siphlophis leucocephalus

Dipsadidae → Xenodontinae → Pseudoboini

Siphlophis leucocephalus (Günther, 1863) - cobra-manchada-comum / common spotted-snake

Apesar de seu nome, a cobra-manchada comum é muito rara. É uma serpente terrestre, e endêmica da região do Brasil que fica entre estados de Goiás e Minas Gerais, em campos de altitude e matas de galeria, e na Bahia, em regiões de florestas costeiras e plantações de cacau. Embora seja pequena, com menos de 80cm, já foi vista predando um lagarto. São poucas as informações sobre sua alimentação, assim como sobre sua atividade reprodutiva. Ainda são necessárias pesquisas para desvendar os mistérios por trás de seus hábitos e os efeitos de sua mordida. Ainda não se sabe muito sobre ela.

Thamnodynastes chaquensis

Dipsadidae → Xenodontinae → Tachymenini

Thamnodynastes chaquensis Bergna & Alvarez, 1993 - falsa-jararaca / medium-sized

A falsa-jararaca é uma cobra pequena, com menos de 80cm de comprimento. Tem hábitos terrestres e semi-aquáticos. Ocorre no Chaco (Argentina, Bolívia e Paraguai) e no Pantanal do Brasil, onde é muito comum. É uma serpente vivípara, isto é, os embriões se desenvolvem dentro do corpo da mãe, e filhotes já nascem prontos. Utiliza suas presas opistóglifas (dentes sulcados localizados na parte de trás da boca), para injetar veneno e então imobilizar e ingerir pequenos anfíbios e peixes. Apesar de não ser considerada uma espécie peçonhenta, comumente desfere botes e mordidas quando molestada, e a ação do seu veneno ainda é pouco conhecida.

ELAPIDAE

Micrurus altirostris

→ Elapidae → Elapinae

Micrurus altirostris (Cope, 1859) – coral-verdadeira / true coral snake

Micrurus altirostris é uma coral verdadeira que vive no sul do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Fossorial, vive no solo ou embaixo do folhiço. Todas as corais verdadeiras pertencem à família Elapidae, e possuem veneno com ação neurotóxica. Sua dieta inclui outras serpentes, lagartos e cobras-cegas. Quando ameaçada, exibe sua cauda e abaixa a cabeça, como na imagem.

Micrurus surinamensis

→ Elapidae → Elapinae

Micrurus surinamensis (Cuvier, 1817) – coral-verdadeira / true coral snake

O padrão de anéis coloridos leva à suspeita: será essa uma coral-verdadeira? E no caso desta serpente, a resposta é sim! Como as outras corais, é proteróglifa (tem dente inoculador na parte anterior do maxilar superior) e ovípara. Porém, difere das outras corais por ter a cabeça mais larga e a cauda mais longa, além de outras adaptações associadas a seus hábitos aquáticos e ao fato de ter peixes como parte importante da dieta. Essa espécie de coral chega até um metro de comprimento, e pode ser encontrada principalmente nas regiões Centro-oeste e Norte do Brasil, além da Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Seu veneno possui neurotoxinas que afetam o sistema nervoso e controle muscular, de grande importância no diagnóstico e tratamento de doenças, e também para a produção de medicamentos. O soro para tratar as picadas das corais é o antielapídico, produzido no Instituto Butantan, em São Paulo.

 Viperidae 

Bothrocophias hyoprora

→ Viperidae → Crotalinae

Bothrocophias hyoprora (Amaral, 1935) - jararaca-bicuda / hognose lancehead 

A jararaca-bicuda, Bothrocophias hyoprora, é uma espécie amazônica que se alimenta principalmente de centopéias, sapos, lagartos e roedores. É uma cobra pequena, raramente ultrapassando 80cm de comprimento, e tem o nariz pontiagudo. Como as outras jararacas, sua dentição é solenóglifa, ou seja, com dois dentes retráteis que servem para injetar o veneno em suas presas. Estudos realizados com outra espécie do mesmo gênero, a víbora-boca-de-sapo (Bothrocophias campbelli), que ocorre na Bolívia e no Equador, mostram que seu veneno tem uma composição de proteínas e enzimas mais simples, em comparação com as outras serpentes da subfamília Crotalinae que habitam a mesma região. O efeito principal do veneno da jararaca-bicuda, que tem maior ação miotóxica, é o de causar lesões necrosantes nas fibras musculares de suas presas.

Bothrops bilineatus

→ Viperidae → Crotalinae

Bothrops bilineatus (Wied, 1821) – jararaca-verde / two-striped forest pitviper

Esta espécie de hábitos arbóreos é encontrada na Mata Atlântica e na Floresta Amazônica. Em algumas regiões da Amazônia é uma das principais espécies causadoras de acidentes ofídicos. É noturna e se alimenta principalmente de pequenos mamíferos, lagartos e sapos, utilizando a cauda de cor diferenciada como isca para atrair suas presas. Prefere florestas bem conservadas e busca áreas próximas à água. Considerada rara, sua coloração torna mais difícil percebê-la na copa das árvores, onde é frequentemente encontrada.

Bothrops jararaca

→ Viperidae → Crotalinae

Bothrops jararaca (Wied, 1824) – jararaca / South American pitviper

A jararaca é uma serpente de ampla distribuição, encontrada principalmente em ambientes florestais e mesmo em áreas antropizadas da Mata Atlântica. Possui hábitos predominantemente terrestres. Os jovens são comumente encontrados próximos a córregos e riachos, onde se alimentam de anfíbios. Os adultos vivem mais distantes dos rios e se alimentam de pequenos mamíferos. Esta espécie tem atividade predominantemente noturna e mais intensa na estação chuvosa. Seu veneno, é muito utilizado em estudos que buscam entender o mecanismo de hemorragias, e também no desenvolvimento de medicamentos.

Bothrops moojeni

→ Viperidae → Crotalinae

Bothrops moojeni Hoge, 1966 – caiçaca / pitviper

A caiçaca ocorre no Cerrado. Foi descrita com base em espécimes coletados em Brasília pelo mastozoólogo João Moojen.

 

 

Crotalus durissus

→ Viperidae → Crotalinae

Crotalus durissus – cascavel / South American rattlesnake

A inconfundível cascavel possui ampla distribuição ao longo do país, e é a única espécie do gênero Crotalus encontrada no Brasil. Na América do Norte são conhecidas mais de 40 espécies de cascavel. As cascavéis não botam seus ovos, mas liberam seus filhotes só depois que os ovos já foram chocados. Os filhotes já nascem independentes e prontos para viver no ambiente silvestre.
Essa serpente se alimenta de pequenos roedores e lagartos, especialmente durante a noite. Caça com o auxílio da fosseta loreal, um órgão sensorial presente entre as narinas e os olhos. Seu veneno tem ação no sistema nervoso, no aparelho circulatório e na musculatura. Estudos apontam que as toxinas presentes no veneno da cascavel possuem agentes antitumorais.

Lachesis muta

→ Viperidae → Crotalinae

Lachesis muta (Linnaeus, 1766) – surucucu-pico-de-jaca / South American Bushmaster

A surucucu pico-de-jaca é a maior serpente peçonhenta das Américas, considerada ameaçada e cada vez mais rara, devido aos encontros com seres humanos a caça ilegal para venda da pele e a redução das florestas onde habita, na região Amazônica e na Mata Atlântica. É noturna e terrícola e se alimenta principalmente de pequenos mamíferos. Único viperídeo sul americano que põe ovos, e apresenta cuidado parental enrolando-se em torno deles para garantir que fiquem seguros até o nascimento dos filhotes. No Brasil é chamada surucucu-pico-de-jaca, pois a textura de sua pele lembra a casca de uma jaca. É personagem de várias lendas brasileiras, como a história dos povos indígenas da etnia Sateré Mawé que conta que foi essa serpente que nos deu a noite